- Oi.
- Oi.
- Então, vamos continuar aquela nossa conversa...
- Você tem certeza de que quer continuar?
- Hã?
- Você me ouviu.
- Eu... Eu não sei. No fundo acho que quero, mas tenho medo do que poderei descobrir.
- Então vamos conversar sobre isso.
- Certo... Nós estávamos em qual parte? Do existêncialismo?
- Sim. Você esta se perguntando...
- ...Se vale a pena viver com tudo isso.
- Mas o que é tudo isso?
- Era minha razão de viver. Isso basta.
- Basta? Sua vida resume-se a sentimentos tão simples assim?
- Sempre me achei um minimalista. Sempre procurei ver a simplicidade das coisas, mesmo sabendo que...
- ...Elas não existem.
- Você quer parar de me interromper?
- Perdão. Faz parte de quem somos.
- Bem, voltando: de que adianta viver sentindo tanta dor? Ando como um zumbi, não paro para pensar, não consigo fazer nada. O que posso fazer? Não vejo mais um motivo.
- Simples. Você precisa achar uma razão pela qual valha a pena viver. Se esforçar em algo que, mesmo que não seja completo, bem sucedido, faça sua cabeça relaxar um pouco de todos esses pensamentos nocivos que você vem tendo.
- De certa maneira, você já me disse o que fazer, mas eu simplesmente não consigo.
- Você está se referindo ao conformismo...?
- Sim.
- Mas você já foi assim. E você sabe que não deu muito certo, que apenas perdeu valores em sua vida.
- Eu sei. Mas ao menos com o conformismo, eu tenho algo para lutar.
- Explique-se.
- Ao não abandonar quem sou, eu sofro. Mas eu luto por aquilo que perdi. Porque, mesmo tentando não abandonar, algo foge. Algo fica perdido. Lógico, se sou um conformado, eu deveria deixar passar.
- Mas nós não conseguimos, não é verdade? Nós não aceitamos. Nós tentamos correr atrás de nossa própria pessoa e por vezes ela escapa como areia pelos dedos.
- Sempre sobram alguns grãos.
- Você vai viver de grãos?
- É o que restou.
- Não existe razão; você não está pensando direito, está apenas tentando encaixar um emaranhado de pensamentos como se eles fossem resolver alguma coisa.
- Ao menos esses pensamentos me fazem refletir sobre quem sou.
- Mas é só isso?
- Como assim?
- Tudo que você anda fazendo me soa vazio. Sua vida soa vazia. Você está vivendo de restos de comida, realizando restos de trabalho, tocando restos de guitarra.
- Então, se minha vida anda tão vazia, por que não simplesmente acabar com ela?
- Covardia.
- Covardia?
- É. Um ato impensado, uma fuga. E depois, do outro lado, você se arrependerá.
Começa a chorar.
- Mas de que adianta tudo, então? Eu estou apenas vivendo sem ao menos realizar que estou vivo! Estou entrando na psicologia barata que sempre detestei. Estou sendo que nunca quis ser!
- Você só me fez mudar. Mas depois mudou de mim.
- Você quer me biografar! Mas não quer saber do fim.
- Eu não faço isso. Estou tentando ajudá-lo.
- Vamos parar por hoje. Eu já não aguento mais.
- Isso é fugir.
Acende um cigarro
- Fugir?
- É. De que adianta fugir de um problema quando ele pode ser resolvido? Não seria melhor simplesmente sentir o que você quer sentir?
- Eu não quero mais sentir.
- Isso é voltar atrás.
- Chega.
Neuronios se desligam. Tu Tu Tu Tu...
2.5.04
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