12.5.04

As vezes me bate uma vontade louca de sair gritando palavrões no meio da rua. De encher os pulmões, abrir a boca e deixar minhas cordas vocais ressoarem com sujeira e fúria. O tipo de fúria adolescente punk - cara de criança, roupas largas, inconsequencia.

Mas aí algo dentro de mim me diz para ficar quieto e analizar. Me diz para conter meus sentimentos, me diz para perceber como estou enganado sobre diversas coisas, como tento me cegar perante a realidade. Eu engulo os palavrões e eles descem como uma cerveja ruim e quente no calor de 40 graus - ficam entalados na garganta, meu estomago começa a revirar.

E fico com esse enjoo até o ponto que tenho que colocar o dedo na goela e esses palavrões são todos vomitados dentro de minha mente, para esvaírem-se em acordes de guitarra ou palavras esquivas.

E tento fugir cada vez mais da realidade bebendo, tentando me destrair. Não conseguindo cumprir com meus deveres e sendo displicente como fui quando tinha 18 anos. Achando que mudei sendo que continuando igualzinho ao que já fui.

E aí o sistema imunológico já está enfraquecido e acabo contraindo uma doença - minha cabeça e meu corpo foram esquecidos e o conjunto deles resolve ficar na cama. Com a garganta doento, com os pés frios e com os lábios quebrados.

Pedindo suplicantemente por um copo d'água, apenas um lábio pode sarar a sede dos meus. Mas eu estou doente e ninguém me trará o copo d'água. Preciso levantar-me, correr atrás e ainda assim, ninguém me garante que terá água em casa.

Então, cá estou, deitado, doente da mente, do corpo e do coração, suplicando por um copo d'água, voltando a ser a pessoa que fui por bastante tempo. Eu ainda não me olhei no espelho e tenho medo do que irei encontrar.

Uma nova pessoa foi construída dos poucos frangalhos que existiam de mim. Essa nova pessoa é frágil, pequena, triste e luta por uma causa perdida. Se eu for pensar, muitas coisas do stargazer ainda sobraram. Mas novos pedaços foram descobertos.

Não que sejam legais. São apenas uma condição momentãnea.

Que tristeza. Que tristeza.

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