4.1.04

Quando Marcelinho completou seus 18 aninhos, achou que podia tudo. Era maior de idade e finalmente poderia sair para descobrir lugares onde se sentisse mais confortável - com as pessoas, com o som, com as bebidas. Um lugar onde ele pudesse encontrar amigos que apaziguassem seu vazio.

Demorou dois anos até que começasse a ir sempre num barzinho onde todas as pessoas que ele considerava "legais" iam. Conversava com todos e aparentemente era muito bem vindo. Todos entendiam suas preocupações e medos e, principalmente, pareciam compartilhar aquele mesmo vazio que tanto machucava o coraçãozinho do pobre Marcelinho.

Entre cervejas e vodkas, foi achando que estava descobrindo um pouquinho de cada um que frequentava o pé-sujo. Alguns lhe pareciam mais confidentes - logo, apareceram as primeiras confissões mais pesadas, confissões mais brutas. Algumas daquelas pessoas não suportavam outras.

Marcelinho, na sua inocência, ingenuidade e bondade, ficou calado a cada coisa que lhe diziam. Preferia não se meter nesses assuntos e apenas ouvia. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia esconder um sentimento que começava a nascer nele e que viria a crescer muito nos próximos meses.

Nojo.

Marcelinho ficava se indagando como pessoas que não se gostavam pudessem se cumprimentar como irmãos, conversar como irmãos e, ainda por cima, chamarem-se de irmãos. É bem verdade que existem muitas famílias onde os irmãos se odeiam e falam entre si apenas por cordialidade e educação - mas educação era muito pouco para o que acontecia no pé-sujo.

O rapaz começou a se afastar pouco a pouco das pessoas que frequentavam o local. Suas aparições eram menos frequentes, suas respostas, mais ambíguas e o número de cervejas que comprava, menor. Nunca entenderia aquelas pessoas que frequentavam àquele barzinho.

Mal sabia ele, o inocente, bobo, infantil Marcelinho que todas as relações humanas estão premissadas pela mentira e pelo interesse. Coisa que ele só foi descobrir quando passou ainda por outros dois grupos.

Mas não era de todo ruim. Algumas pessoas nesses grupos eram exatamente feito Marcelinho. Se sentiam sempre peixes fora d'água, nunca entendiam porque as pessoas eram daquela maneira. Logo, alguns amigos de grupos distintos ficaram com ele.

E assim, o grupo de Marcelinho foi formado. Para fazer as mesmas coisas que os outros grupos faziam. Só que dessa vez, Marcelinho não conseguia mais perceber.

Porque era ingênuo, bobo e infantil, pobre Marcelinho.

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