E o dente começa a coçar. Não sei se é dor, não sei se é um pedacinho de carne. Ele apenas coça. Começo a arranhar meus dentes até que eles sangrem. Assim como dependemos tanto de esperanças falidas. E os dentes ficam amarelados de tanta dor e machucados. E os dentes resolvem cair mas ainda acredito que estejam lá. E passo a coçar o ar.
E o ar vem reclamar que está ficando machucado. Eu reseto minha moção. Fico sem dentes e sem saber o que fazer. Mas no fundo eu nunca tive dentes. Sempre fiquei a coçar e sentir um incômodo que era apenas etéreo. Produto meu.
Passam-se uns anos e você vê que na verdade tudo não passa de uma grande brincadeira. Você encontra dentes, novamente. Tenta coçá-los e lá vem aquele incômodo novamente. Mas dessa vez não são dentes.
Por que dessa vez eles tem formato de uma pessoa. Uma pessoa branca, linda. E se eu tentar coçar, vai machucar. Reseto minha moção. E fico sem saber o que fazer para sentir o incômodo.
- É melhor não senti-lo.
Coço meus dentes. Que na verdade não existem. Mas que sempre doeram.
26.8.03
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